A partir dos próximos anos, as empresas cujo propósito se limita apenas ao lucro não irão sobreviver. E é justamente neste cenário de stakeholders mais engajados e de um mundo em transformação que se destaca o empreendedorismo social.
Vão sobreviver as empresas que sejam capazes de resolver problemas da sociedade de uma forma que permita a elas ganhar dinheiro com isso, sem agir de forma predatória sobre as pessoas e sobre o planeta.
Surgida nas últimas décadas, o empreendedorismo social é uma forma de construir um negócio que venha a ser lucrativo, mas que gere impacto social no ambiente em que estiver inserido.
Este novo modelo de negócios se aproveita de um gap existente na sociedade, em que a iniciativa privada atua em um espaço deixado pelo poder público.
Ele pode estar relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são uma série de metas globais estabelecidas pela ONU para solucionar os desafios socioambientais mais urgentes até 2030.
Os empreendedores sociais, por sua vez, desempenham um papel fundamental na realização desses objetivos, visto que eles se concentram em criar soluções inovadoras e sustentáveis para os problemas do presente e do futuro.
O funcionamento do empreendedorismo social pouco se difere de um negócio tradicional, exceto pela busca por obrigatoriamente gerar impacto positivo, resolver problemas sociais ou ao menos mitigá-los.
No mais, o empreendimento social opera de acordo com os mesmos mecanismos de mercado que uma empresa tradicional. Ele gera lucro, que pode ser usado para financiar projetos sociais ou não, e também ser replicado na empresa.
Um diferencial do empreendimento social é que, no caso de uma empresa que trabalhe com produtos de consumo ou serviços, a precificação costuma ter em vista a facilitação do acesso a esses produtos ou serviços pelas populações mais vulneráveis.
O mesmo vale para o recrutamento. As vagas podem ser destinadas prioritariamente a pessoas que fazem parte de minorias sociais ou em situação de vulnerabilidade financeira.
Pode haver também uma proposta educativa ou de formação profissional, no caso de posições mais operacionais e que não exijam formação específica.
Vale dizer que um empreendimento social pode ser instituído em qualquer área, da engenharia à gastronomia, por exemplo. O importante é que a atividade executada gere um impacto positivo.
O empreendedor social joga luz sobre questões sociais latentes e busca gerar impacto de modo que vá reduzi-las ou mitigá-las. Ele identifica desafios e lacunas que precisam ser superados e busca inovar, encontrar novos caminhos e soluções criativas para enfrentar esses problemas.
A decisão de manter um empreendimento social, tendo em vista os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ou o desejo por gerar impacto positivo na comunidade em que esteja incluído, costuma estar alinhada aos valores do próprio empreendedor.
A partir das próprias experiências, o empreendedor social compartilha conhecimento e recursos para aumentar o alcance das ações que se propõe a realizar por meio do negócio.
SAIBA MAIS: Formação de líderes: como formá-los em sua empresa?
O empreendedorismo social gera desenvolvimento sustentável, melhoria na qualidade de vida de colaboradores, fornecedores e comunidades ao redor, e viabiliza o acesso a produtos e serviços que antes estavam fora do alcance de determinados grupos.
No encontro de 2020 em Davos, o Fórum Econômico Mundial estabeleceu 34 métricas relacionadas a 4 fatores essenciais que devem guiar os empreendimentos: pessoas, planeta, prosperidade e princípios de governança.
De acordo com Fórum Econômico Mundial, a criação de valor só será sustentável em longo se levar em consideração esses fatores, em consonância com os princípios ESG (environment, social and governance).
Considerando a lacuna existente nesse sentido, que não tem sido preenchida nem por ações governamentais, nem pelo terceiro setor, os empreendimentos sociais suprem essas demandas que são tão importantes atualmente.
A pegada do empreendedorismo social é a de criar um negócio que gere impacto socioambiental, enquanto o principal objetivo dos empreendedores tradicionais costuma ser o de buscar o lucro financeiro.
Klaus Schwab, fundador do European Symposium of Management — que viria a se tornar o Fórum Econômico Mundial —, em seu livro Capitalismo Stakeholder, trata da necessidade de focar todas as partes interessadas e envolvidas no ambiente relacional do negócio.
Segundo Schwab, o capitalismo tradicional resultou em tensões que precisam ser sanadas pelo próprio capitalismo. No entanto, o modelo de empreendedorismo tradicional, que prioriza somente os acionistas, não é mais capaz de resolver esses conflitos.
E é por essas razões que o empreendedorismo social emerge, como uma alternativa aos modelos de negócios mais tradicionais, com foco no profit (lucro), e acrescenta outros dois Ps à história: people e planet (pessoas e planeta, respectivamente).
O empreendedorismo social pode ser pautado sobre alguns fatores que serão basilares para as práticas adotadas pelo empreendedor na gestão do negócio. Comecemos pelos pilares que não são feitos de concreto.
A partir disso, surgem alguns pilares mais palpáveis, que exigem a mão na massa:
Tendo esses pilares sólidos, o empreendedor social poderá gerar um ciclo de valor socioambiental por meio do seu negócio.
O impacto do empreendedorismo social na sociedade pode ser notado por meio de diferentes manifestações.
Os produtos e serviços que costumávamos conhecer acabam sendo ofertados com novas roupagens e formas, muitas vezes se tornando até mais acessíveis. A inovação, portanto, é um dos resultados gerados.
A humanização nas relações de trabalho é outro impacto importante. Empreendimentos sociais valorizam as pessoas e têm cuidado com os colaboradores, com pagamento de salários justos e honestidade e transparência na relação com os fornecedores e parceiros.
Ainda, a criação de empregos favorece a economia local. O impacto social gerado pela democratização ao acesso a produtos e serviços e pela empregabilidade de pessoas em situação de vulnerabilidade resulta em desenvolvimento.
Em contrapartida, o fato de se tratar de um empreendimento com valores e uma cultura tão bem estabelecidos, os gestores precisam estar alinhados e ser bastante cuidadosos durante os seguintes processos:
LEIA MAIS EM: Ticket Alimentação: uma cesta digital que traz a liberdade de escolha.
Esses são exemplos de práticas que o empreendedor social pode adotar para demonstrar o seu compromisso socioambiental e manter o negócio de maneira sustentável. Além disso, essas práticas podem reduzir custos a longo prazo e melhorar a eficiência operacional.
Outra estratégia de valor é comunicar essas práticas ao público, tanto no atendimento quanto por meio das redes sociais, pois isso é capaz de atrair clientes que valorizam a responsabilidade ambiental e social.
O empreendedorismo social está alinhado ao que há de mais moderno na gestão de pessoas e de negócios. A ideia de que um negócio precisa visar o lucro acima de tudo e agir de maneira predatória não faz mais sentido, independentemente da área.
Da mesma forma que nem todo empreendimento tradicional age de maneira predatória, o empreendimento social não precisa ser necessariamente uma ONG ou uma instituição sem fins lucrativos.
Na realidade, um empreendimento social rentável e lucrativo torna-se ainda mais potente e capaz de gerar mais impacto, já que, dessa forma, consegue reinvestir no negócio e amplificar suas ações.
É importante ter em mente que vivemos a era da colaboração, em que o compartilhamento de recursos e conhecimentos é elemento-chave para o sucesso nas empresas e na sociedade como um todo.
Portanto, a empresa precisa contar com fornecedores e com colaboradores que estejam alinhados ao seu propósito e à sua missão organizacional, para que os impactos socioambientais e econômicos sejam atingidos de forma bem-sucedida.
Lembre-se de que as empresas que pretendem sobreviver no futuro devem se concentrar nos três P: profit, planet e people. Sem lucro, a empresa não verá o futuro. Mas sem também olhar para o planeta, para o meio ambiente, e para as pessoas, talvez não haja futuro para o qual olhar.
Ricardo Basaglia é CEO da Michael Page no Brasil e é autor do best-seller Lugar de Potência. Hoje é o headhunter mais acompanhando do Brasil, produzindo conteúdo sobre Carreira & Liderança nas redes sociais e podcast. https://www.instagram.com/ricbasaglia/
Ou solicite uma proposta comercial e entraremos em contato com você.
Assine nossa newsletter e confira tudo o que você precisa saber para multiplicar os benefícios Ticket dos colaboradores da sua empresa.
