Saúde Mental no Trabalho: o que é, e como promover – Guia 2024

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Mulher está entre colaboradores conversando sobre saúde mental

 

É consenso que, hoje, oferecer um bom salário não é o suficiente para reter talentos. Mais do que retorno financeiro, os colaboradores atualmente buscam trabalhar de modo que lhes proporcione o que chamamos de work-life balance — o equilíbrio adequado entre dedicação, vida pessoal, propósito e saúde mental no trabalho.

Agora, cabe às empresas finalmente encarar esse desafio e se questionarem de que modo elas estão promovendo um ambiente que favoreça o work-life balance, sobretudo no que se refere à saúde mental no trabalho, que cada vez mais passa a ser o fiel da balança nessa equação.

 

O que é a saúde mental no ambiente de trabalho?

O primeiro passo é entender que pessoas são muito mais do que peças que fazem parte das engrenagens da operação.

Entender os colaboradores como sujeitos únicos, mas também vulneráveis, e a partir disso proporcionar espaços para que eles possam se comunicar abertamente com líderes e, até mesmo, com profissionais de recursos humanos, é um primeiro passo essencial para promover a saúde mental no ambiente de trabalho.

A organização precisa reconhecer que a qualidade do trabalho não se resume a entregas pontuais, e sim que ela também está atrelada a um engajamento de longo prazo, que depende de pessoas saudáveis, com satisfação no trabalho e com a saúde mental preservada.

 

Qual a importância da saúde mental no trabalho?

A pandemia da Covid-19 expôs muitas vulnerabilidades da organização do trabalho como a qual estávamos acostumados, da mesma forma que nos obrigou a encarar questões que costumávamos “varrer para baixo do tapete” e fazer vista grossa para não termos que lidar com elas.

A importância da saúde mental no trabalho vai muito além da manutenção da produtividade e de “manter a roda girando” cotidianamente. Além, é óbvio, da humanização das relações de trabalho.

Em momentos de crise, ter funcionários saudáveis, felizes, que reconhecem no trabalho um ambiente de conforto e segurança psicológica, é uma carta na manga que colocará a organização um passo à frente para se reorganizar e superar o desafio.

 

Como promover ações de saúde mental no trabalho?

 

Duas profissionais em uma sala de escritório tendo uma conversa sobre saúde mental

 

Diferentes iniciativas podem ser implementadas para a promoção e manutenção da saúde mental no trabalho. A começar pela abertura do diálogo por parte das lideranças e dos profissionais de RH.

Experiências bem-sucedidas mostram que proporcionar um espaço acolhedor provoca um efeito cascata na saúde mental no trabalho. E por “espaço”, entenda-o de duas formas: o espaço metafórico, constituído pelo clima organizacional; e o espaço físico, propriamente dito.

O “Projeto Aristóteles”, implementado pelo Google a fim de criar um ambiente de trabalho de alta performance, tem como principal característica a criação de um ambiente de segurança psicológica, que valorize diversidade, diálogo e tolerância.

Um ambiente amigável, que facilite o trânsito e a comunicação entre as pessoas, favorece inclusive que quem precise de ajuda se sinta motivado a procurá-la. Ainda, transitar entre pessoas diversas e poder dialogar com elas têm um efeito poderoso: o de saber que não estamos sozinhos.

 

Flexibilidade da jornada de trabalho

 

mulher trabalhando em um home office demonstrando flexibilização da jornada

 

Em resposta ao estado da saúde mental de gestores durante a pandemia da Covid-19, com uma abordagem multidisciplinar, a Harvard Business School orientou que certas medidas fossem tomadas para recompor o equilíbrio.

Tais medidas demandavam bastante flexibilidade, tanto por parte das empresas como por parte dos profissionais, que precisariam desapegar de seus hábitos rígidos e insalubres. A solução, à primeira vista, parece proposta por um life coach, mas foi dada pelos pesquisadores de Harvard:

  • Alimentar-se bem e manter-se hidratado: pode parecer óbvio, mas sob estresse, os sinais de fome e sede enviados pelo cérebro podem ser confundidos ou suprimidos por outras emoções.
  • Dormir bem: o que significa passar por todas as fases do sono. A fase REM está associada a estabelecer conexões — nela, temos os sonhos mais vívidos, e é quando os estímulos do nosso dia se transformam em memórias e aprendizados. No sono não REM, nós efetivamente descansamos — o cérebro “se desliga”, preparando-nos para o dia seguinte.
  • Praticar exercícios físicos: segundo os autores, o cérebro de corredores apresenta mais conexões neurais em áreas relacionadas ao pensamento complexo, à tomada de decisão e à atenção do que o de pessoas que não praticam exercícios com regularidade.
  • Meditar: meditação é uma prática que independe de qualquer crença. Trata-se, basicamente, de se concentrar em uma palavra, um movimento, um som ou na própria respiração.
  • Não fazer nada: deixe a mente vagar livremente.

Qual foi a última vez que você pensou em flexibilizar, em vez de endurecer, a cobrança sobre a rotina dos colaboradores?

Siga lembrando que os resultados a serem entregues permanecerão na mira, é claro. Mas é preciso ser estratégico, afinal, a manutenção da saúde mental no trabalho é um cuidado que também convém à empresa.

 

Oportunidades de crescimento

 

O psiquiatra norte-americano William Glasser, especialista em saúde mental,  comportamento humano e educação, desenvolveu a chamada Pirâmide do Aprendizado, que expõe a forma como os seres humanos tendem a se desenvolver por meio de diferentes fontes.

O modelo de Glasser propõe que o indivíduo seja o protagonista do próprio desenvolvimento, desvencilhando-se do treinamento formal como única fonte válida e reconhecida.

Segundo o pesquisador, aprendemos:

  • 10% do assunto quando lemos;
  • 20% quando ouvimos;
  • 30% quando observamos;
  • 50% quando vemos e ouvimos;
  • 70% quando discutimos em grupo;
  • 80% quando praticamos;
  • 95% quando ensinamos aos outros o que já sabemos.

Aqui, a flexibilidade também é importante.

Mais do que delinear um plano de carreira que motive o colaborador, uma organização mais aberta incentiva o aprendizado autônomo e dialógico dos colaboradores. Sobretudo, ela o reconhece como parte do crescimento profissional

Valorizar essa trajetória de aprendizado do colaborador de modo que ele tenha oportunidades de crescimento na empresa é um ingrediente importante. Tanto para engajar quanto para criar um ambiente de competição saudável e segura.

 

Desenvolvimento de uma boa comunicação com sua equipe

 

Uma funcionária falando enquanto seus colegas de trabalho escutam em uma sala de reunião

 

Alguns temas são considerados tabus. E a maioria das pessoas tem dificuldade para falar sobre eles, principalmente com os gestores no ambiente de trabalho.

Apesar da maior abertura no tratamento do tema, como comento anteriormente, saúde mental no trabalho ainda é um dos assuntos tabus.

Por parte do colaborador, há muito desconforto ao abordar o tema. Já pelo lado dos gestores, muitas vezes, aquele que ouve pode desconsiderar importância do tema ou achar que uma reclamação sobre burnout, por exemplo, é “corpo mole”. Não caia nessa.

Jamais invalide a queixa do colaborador. Pelo contrário, faça uma análise do que ele relata e observe como anda a rotina do setor do qual ele faz parte. E não se esqueça de avaliar se algo semelhante está acontecendo com os outros colaboradores.

Esse entendimento precisa existir, sobretudo, entre líderes e profissionais da área de gestão de pessoas. Ao instituir um ecossistema preparado para acolher os colaboradores e promover a saúde mental no trabalho, a organização se beneficia muito.

 

Formação de bons líderes, que apoiam seus colaboradores

 

Liderança de um time de colaboradores falando com seu time durante uma reunião

 

Toda e qualquer estratégia adotada pela organização, para ser bem-sucedida, depende da adesão e do engajamento dos líderes. Para isso, eles precisam compreender a importância do tema em questão.

Sempre que possível, invista na formação dos líderes em assuntos alinhados com o propósito da organização. Não basta dar um workshop sobre saúde mental. É preciso de fato municiar os líderes com habilidades como comunicação não violenta e escuta ativa.

Uma pesquisa feita pelo Datafolha indica que um fator importante é assegurar que os líderes saibam administrar questões relativas às necessidades e às habilidades socioemocionais dos colaboradores.

Isso inclui ter a sensibilidade para lidar com demandas relacionadas a gênero, diversidade e, em alguns casos, questões multiculturais. Afinal, estes são fatores que, muitas vezes, estão relacionados a divergências que podem resultar em problemas de saúde mental no trabalho.

 

O que saber sobre saúde mental do trabalhador no Brasil

 

Uma pesquisa publicada pela Pearson em 2020 indicou que 16% dos entrevistados no Brasil reconhecem como função do Estado proporcionar atendimento de saúde mental aos trabalhadores.

Já um levantamento publicado em 2022 pela mesma organização aponta que mais de dois terços dos brasileiros acreditam que as empresas deveriam prover serviços de saúde mental a seus funcionários.

Ou seja, o acesso facilitado a profissionais da saúde mental deve estar na mira das empresas não só como benefício atrelado ao plano de saúde. Deve ser uma política organizacional. E esta é uma demanda dos próprios colaboradores.

 

Benefícios de cuidar da saúde mental no trabalho

Os cuidados com a saúde mental no trabalho se refletem em resultados mais evidentes, que podem ser vistos no médio e longo prazo na organização.

Alguns exemplos que costumam vir à mente de maneira mais imediata são a redução da rotatividade, menores custos com saúde, aumento da produtividade e consolidação de uma cultura organizacional saudável.

No entanto, é preciso ter em mente que esses benefícios geram um efeito bola de neve. Até mesmo a economia global é favorecida, e muito.

 

Aumentar a produtividade

 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada US$ 1 investido em tratamentos de saúde mental gera um retorno de US$ 4 por meio do aumento na produtividade do colaborador.

Esse incremento na receita tem reflexos exponenciais na economia.

Uma recente pesquisa da Gallup traz dados alarmantes sobre o impacto generalizado dos problemas de saúde mental no trabalho. Dezenove por cento dos entrevistados classificaram a própria saúde mental como ruim.

Estes, em comparação aos que relataram ter uma boa saúde mental, apresentaram quatro vezes mais ausências não planejadas no trabalho: doze faltas anuais, frente a 2,5 faltas dos funcionários mentalmente saudáveis.

Projetando para toda a força de trabalho dos EUA, a estimativa é que essa perda de produtividade custe US$ 47,6 bilhões para a economia do país anualmente.

 

Reduzir a taxa de turnover e o absenteísmo

 

Tendo em vista a pesquisa da Gallup, os custos do absenteísmo são gigantescos. Além disso, os problemas de saúde mental no trabalho também se refletem em maiores taxas de turnover e, ainda, em eventuais acidentes de trabalho.

Mas antes mesmo de desistir do trabalho, o colaborador passa por um estágio que muitas vezes é negligenciado dentro da empresa: o chamado “presenteísmo”.

Nesse caso, ele está na empresa, mas já não executa as próprias funções nem interage com os demais. O dia de trabalho é, basicamente, uma “cerimônia de corpo presente”. A pessoa está ali apenas existindo.

Esse fator, tão problemático quanto a rotatividade, também é sanado quando a questão da saúde mental no trabalho é levada em conta, e logo é notada por líderes atentos.

 

Aprimorar o clima organizacional

 

Equipe trabalhando em clima descontraído no escritório

 

Uma mudança de mentalidade no que se refere à saúde mental no trabalho se reflete em toda a cultura e, consequentemente, no clima organizacional.

A Covid-19 nos fez introjetar que é inaceitável alguém ir trabalhar com síndromes respiratórias que possam ser contagiosas.

Da mesma forma, uma boa abordagem da questão da saúde mental no trabalho pode criar uma cultura na qual depressão, burnout, ansiedade, crises de pânico, dentre outros, não devem ser ignorados nem varridos para baixo do tapete.

Essa mudança de mentalidade se reflete em um clima organizacional cujo mote é o cuidado com os demais.

 

Retenção de talentos na empresa

 

Não adianta ter um processo seletivo rigoroso, montar uma equipe repleta de talentos, se a empresa não leva a saúde mental deles a sério e não consegue mantê-los.

As interferências prejudiciais podem ser muitas, dentre elas: sobrecarga de trabalho; falta de oportunidades para crescer; lideranças incapazes; e assim por diante.

Uma das habilidades do líder deve ser potencializar e reter talentos, diminuindo as interferências e, quando necessário, intervir. Afinal, não adianta ter profissionais gabaritados e massacrá-los.

Lembre-se da perda de produtividade resultante das faltas devido a problemas de saúde mental. Agora, multiplique essa perda levando em conta um funcionário talentoso, no qual a empresa investiu.

Agora, reflita: quais são os benefícios da promoção da saúde mental no trabalho, tendo em vista a retenção de talentos? Assim como as perdas, os ganhos também podem ser exponenciais, tanto em receita quanto em conhecimento agregado, somado e compartilhado.

 

Conclusão

 

A questão da saúde mental no trabalho, que já era relevante, foi escancarada pela pandemia mais recente. A OMS já considerava a depressão como uma doença  no século XXI e alertava sobre o impacto do aumento das doenças mentais.

É claro que o trabalho não é o único responsável por doenças mentais. Mas se a gente passa ao menos um terço da nossa vida no trabalho, eu não tenho a menor dúvida de que a saúde mental é impactada por ele.

Afinal, cada pessoa é diferente. E cada uma delas passa por momentos diferentes na vida e na carreira, o que interfere na vulnerabilidade e na predisposição a questões de saúde mental. Eventualmente, um colaborador poderá precisar de ajuda especializada, e contar com suporte no ambiente de trabalho pode ser crucial.

Por isso é tão importante um olhar atento da gestão, assim como a criação de espaços seguros e acolhedores, para que os colaboradores não tenham receio de expressar como se sentem nem de abordar o tema da saúde mental por considerá-lo tabu.

Um colaborador jamais deveria se sentir intimidado ou receoso de ser julgado ou perder o emprego por ter que lidar com um problema de saúde mental no trabalho. Assumir essa mentalidade é fundamental.

 

Ricardo Basaglia é CEO da Michael Page no Brasil e é autor do best-seller Lugar de Potência. Hoje é o headhunter mais acompanhando do Brasil, produzindo conteúdo sobre Carreira & Liderança nas redes sociais e podcast. https://www.instagram.com/ricbasaglia/

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