*Por Martha Marques
Organizar jornadas de trabalho pode ser difícil, especialmente em setores que exigem presença contínua. É aí que a escala 12×36 ganha espaço: um modelo que atende a essa demanda mas que, para ser eficaz tanto para empresas quanto para colaboradores, deve ser bem compreendida e aplicada.
Neste artigo, você vai descobrir o que torna essa escala tão utilizada, seus impactos no dia a dia das empresas e dos trabalhadores, além de como aplicá-la respeitando a legislação e priorizando produtividade e qualidade de vida. Se está em busca de soluções práticas e dicas sobre a escala 12×36, siga lendo. Esse conteúdo foi feito para você!
Já imaginou trabalhar 12 horas seguidas e depois ter 36 horas de folga? Esse é o modelo da escala 12×36, um formato que surgiu como uma solução para setores que precisam de operação contínua, como hospitais, segurança e indústrias. Afinal, nesses ambientes, não dá para simplesmente “fechar as portas” ao final do expediente.
Embora hoje seja bem regulamentada, a escala 12×36 começou a ser usada de modo informal, especialmente em profissões que exigiam turnos longos. Era uma tentativa de organizar a rotina nesses setores sem sobrecarregar os trabalhadores com jornadas ainda mais extensas.
Com o tempo, esse modelo foi se popularizando, mas também levantou debates sobre a necessidade de criar regras para evitar abusos. Só na Reforma Trabalhista de 2017 a escala 12×36 ganhou uma regulamentação oficial, permitindo sua adoção por meio de acordos individuais ou coletivos.
A escala 12×36 funciona de modo simples: o trabalhador cumpre 12 horas de trabalho seguidas e, em então, tem 36 horas de descanso.
Por exemplo, se um colaborador começa a trabalhar às 7h da manhã de segunda-feira e termina às 19h do mesmo dia, ele terá 36 horas livres até o próximo turno, ou seja, ele retorna ao trabalho às 7h da quarta-feira.
O ciclo de trabalho é, portanto, bem definido, proporcionando previsibilidade tanto para o trabalhador quanto para a empresa. O trabalhador sabe exatamente quando vai trabalhar e quando vai descansar, o que facilita o planejamento da rotina. Além disso, a folga de 36 horas permite um descanso maior entre os turnos em comparação a outras jornadas mais curtas, como o modelo 6×1, tornando esse formato mais vantajoso em alguns casos.
A escala 12×36 é reconhecida pela legislação trabalhista brasileira, mas sua aplicação precisa seguir algumas regras para garantir os direitos dos trabalhadores e a segurança jurídica das empresas.
A principal regra é que a escala 12×36 só pode ser implementada com base em um acordo individual escrito ou por meio de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. Isso significa que empregador e empregado precisam formalizar o uso dessa escala, deixando tudo documentado para evitar futuros questionamentos.
Outro ponto importante é que, ao adotar a escala 12×36, as 36 horas de descanso consecutivas já incluem o descanso semanal remunerado (DSR). Ou seja, o trabalhador tem direito a folgar durante esse período sem prejuízo salarial.
Além disso, a legislação prevê que o trabalhador que estiver escalado para atuar em um dia de feriado tem direito a receber compensação ou pagamento adicional, conforme definido no acordo ou na convenção coletiva.
Também é importante lembrar que a jornada de 12 horas deve incluir os intervalos obrigatórios para refeição e descanso, como determina a Consolidação das Leis do Trabalho CLT. A omissão desse intervalo implica o pagamento como hora extra, com acréscimo de pelo menos 50% sobre o valor da hora normal.
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Outro ponto relevante é a questão das horas extras. Mesmo na escala 12×36, se o trabalhador ultrapassar as 12 horas previstas, essas horas excedentes precisam ser pagas como extras ou compensadas, respeitando os limites da lei.
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Por fim, a legislação trabalhista reforça que, mesmo com a escala 12×36, o empregador deve garantir condições de trabalho seguras e saudáveis. Isso é necessário para que o regime seja sustentável tanto para a empresa quanto para o colaborador.
A jornada de trabalho 12×36 não é para todos, mas há setores específicos onde ela se encaixa como uma luva. Em áreas que exigem operação contínua, a escala 12×36 ajuda a garantir a cobertura necessária sem sobrecarregar a equipe. Vamos dar uma olhada nos setores que mais adotam esse modelo.
A área da saúde é uma das maiores usuárias da escala 12×36. Hospitais, clínicas e serviços de emergência precisam garantir atendimento 24 horas por dia, 7 dias por semana. Médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, por exemplo, frequentemente trabalham 12 horas seguidas para poderem descansar nas 36 horas seguintes.
Em segurança, seja em empresas privadas, vigilância patrimonial ou segurança pública, a demanda por cobertura ininterrupta é alta. Em muitos casos, especialmente em empresas de monitoramento e vigilância, a jornada 12×36 é usada para garantir que sempre haja profissionais no local sem a sobrecarga de longos turnos contínuos. Isso é indispensável para manter a eficácia no trabalho de segurança, reduzindo riscos de falhas humanas por cansaço.
Fábricas e indústrias que operam com maquinário pesado ou em turnos de produção contínuos também são grandes adeptas da escala 12×36. Em setores como automobilismo, petroquímica e metalurgia, a escala ajuda a manter a linha de produção sempre em funcionamento. Trabalhadores nas áreas de produção, logística e manutenção podem ter turnos de 12 horas seguidas para garantir que a operação não pare, enquanto suas folgas de 36 horas permitem recuperação entre os turnos.
No setor de transportes, principalmente em transporte público, logística e aviação, a necessidade de operação constante também faz com que a escala 12×36 seja uma opção viável. Motoristas, cobradores e operadores de transporte aéreo, por exemplo, podem ter jornadas longas, mas com intervalos largos o suficiente para garantir que estejam descansados antes de retomar o trabalho.
Empresas de energia, como usinas e operações de distribuição elétrica, também adotam o modelo 12×36. A escala é ideal para trabalhadores que precisam realizar atividades de manutenção ou monitoramento de redes elétricas, que não podem ser interrompidas, especialmente em momentos críticos.
Quando a jornada 12×36 é adotada, o RH precisa estar em sintonia com as particularidades desse modelo de trabalho para garantir que ele seja eficaz e produtivo.
Um dos maiores desafios para o RH é gerenciar a saúde e o bem-estar dos colaboradores. Embora a escala ofereça 36 horas de descanso, o trabalho de 12 horas seguidas pode ser fisicamente e mentalmente desgastante. Por isso, o RH precisa promover práticas que ajudem na recuperação efetiva do colaborador durante o descanso, como a gestão de turnos inteligentes e a criação de um ambiente que facilite a integridade física e psicológica.
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Outro ponto importante é o monitoramento da produtividade. Trabalhar 12 horas consecutivas pode afetar a disposição de um colaborador, e o RH deve estar atento ao desempenho. O uso de ferramentas de gerenciamento de resultados pode ser um grande aliado, ajudando a identificar possíveis falhas no processo ou quedas de rendimento, e ajustando a jornada quando necessário.
Por fim, o RH também é indispensável na implementação de estratégias de engajamento e motivação. Com jornadas longas, a falta de estímulos e reconhecimento pode impactar o ânimo do time. Oferecer programas de qualidade de vida, como apoio psicológico e momentos de descanso adicionais, pode ser muito bom para garantir que a jornada 12×36 seja realmente eficiente e não prejudique o equilíbrio dos colaboradores.
Vamos entender as principais modalidades de jornada de trabalho adotadas pelas empresas.
O modelo 6×1 é clássico e bastante adotado em setores como comércio e serviços. O trabalhador cumpre 6 dias de trabalho seguidos, com apenas 1 dia de descanso. Esse tipo de jornada exige que o colaborador se mantenha produtivo durante os dias de operação intensa. Um detalhe importante é que esse modelo exige um bom equilíbrio entre vida profissional e pessoal do colaborador, especialmente quando a carga horária diária ultrapassa as 8 horas.
A escala 5×2 é a favorita de muitos trabalhadores de escritórios e empresas que buscam um ritmo mais equilibrado. Com 5 dias de trabalho e 2 dias consecutivos de descanso, esse formato permite que o colaborador tenha mais tempo livre durante a semana, o que pode ajudar na qualidade de vida e no bem-estar. A jornada de trabalho diária pode variar, mas, de modo geral, a carga semanal não ultrapassa as 44 horas permitidas pela CLT, facilitando a organização tanto para os colaboradores quanto para a empresa.
A implementação da jornada 12×36 não é tão simples quanto virar uma chave. Exige planejamento, ajustes e, acima de tudo, um acompanhamento constante para garantir que tudo aconteça de maneira eficiente e sem prejudicar o colaborador. Então, como colocar isso em prática de maneira inteligente?
Primeiro, é preciso entender que a estrutura de trabalho 12×36 exige uma boa divisão de turnos. O objetivo é garantir que a operação da empresa nunca pare, mas sem sobrecarregar o colaborador. A escala rotativa é uma das opções mais comuns aqui, permitindo que os trabalhadores alternam entre os turnos de manhã, tarde e noite, garantindo que ninguém fique em um horário fixo, o que pode ajudar a diminuir o cansaço.
Outro ponto é a formalização legal. Para adotar a escala 12×36, a empresa precisa firmar um acordo coletivo com o sindicato da categoria ou um contrato individual com os funcionários. Isso deve ser feito de acordo com as normas da CLT, que, apesar de permitir a jornada 12×36, exige que ela seja estruturada de modo que não prejudique a saúde dos colaboradores. Ou seja, a empresa deve garantir o respeito aos direitos trabalhistas.
A gestão do descanso também merece atenção. Embora a jornada de 12 horas seja seguida por 36 horas de descanso, a qualidade desse descanso é vital para evitar a fadiga e a exaustão. Portanto, o RH deve monitorar como os colaboradores estão se sentindo e garantir que o tempo de descanso seja, de fato, utilizado para recuperação física e mental. Vale incluir programas de saúde, apoio psicológico e acompanhamento médico.
Para que a escala 12×36 seja realmente vantajosa, a empresa deve investir em tecnologia para a gestão de turnos. Ferramentas que permitem acompanhar a carga horária, controlar a escala 12×36 e fazer ajustes rápidos são importantes para garantir que tudo aconteça organizadamente e sem falhas. Além disso, é importante manter um diálogo constante com os colaboradores. Eles precisam sentir que têm a voz ouvida, especialmente em relação aos desafios dessa jornada mais longa.
Com o trabalho remoto crescendo, alguns setores podem adaptar a jornada 12×36 para integrar momentos de home office dentro do modelo, principalmente em áreas mais administrativas. Essa adaptação seria uma maneira de proporcionar mais flexibilidade, sem comprometer a entrega dos resultados.
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Como qualquer modelo de jornada de trabalho, a escala 12×36 tem seu lado positivo e seu lado negativo. Vamos analisar os dois lados dessa moeda.
Uma das maiores vantagens da escala 12×36 é a presença constante da equipe. Para empresas que precisam operar 24 horas por dia, 7 dias por semana, esse modelo oferece uma maneira eficiente de garantir que sempre haja alguém para atender às necessidades da operação, seja em hospitais, fábricas ou postos de segurança.
Ao trabalhar 12 horas em um dia, o colaborador tem 36 horas de descanso antes de retornar ao trabalho. Esse tempo pode ser visto como uma grande vantagem para quem prefere blocos maiores de folga, já que pode se planejar melhor para atividades pessoais ou para descanso adequado. É uma escala que oferece mais tempo livre comparada a outros modelos que exigem folgas mais curtas.
Como as jornadas são longas, os colaboradores têm mais horas contínuas para realizar tarefas. Isso pode aumentar a eficiência em setores que necessitam de períodos concentrados de atividade. Quando bem administrada, a escala 12×36 permite que os trabalhadores se concentrem sem interrupções.
O ponto mais criticado da escala 12×36 é o impacto na saúde. Trabalhar por 12 horas seguidas pode ser exaustivo, especialmente em tarefas que exigem grande esforço físico ou emocional. Isso pode levar à fadiga e até mesmo a problemas de saúde a longo prazo, caso o descanso não seja de qualidade.
Apesar das 36 horas de descanso, a escala 12×36 pode dificultar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Para quem tem filhos, compromissos sociais ou atividades pessoais que exigem uma agenda mais regular, o trabalho em turnos pode causar frustração e dificuldades em conciliar os compromissos.
Embora a jornada 12×36 pareça ser vantajosa para empresas, ela pode gerar custos extras, como a compensação de horas extras, a necessidade de treinamento contínuo e gestão de turnos mais complexa. Para empresas menores ou com menos recursos, manter a escala 12×36 pode ser um desafio financeiro e logístico.
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Veja algumas dicas para tirar o máximo proveito da escala 12×36 sem perder o equilíbrio.
Com 36 horas de folga, você tem tempo para se recuperar, mas é importante que seu descanso seja bem aproveitado. Durma em horários regulares e evite compromissos logo após o turno de 12 horas, já que o cansaço pode afetar sua disposição.
Trabalhar por 12 horas não significa ficar sem parar. Aproveite os intervalos para dar uma descansada mentalmente e, se possível, caminhe um pouco. O corpo e a mente agradecem.
Sua alimentação e hidratação têm um impacto direto em como você se sente durante a jornada. Uma refeição leve e nutritiva pode ser a chave para manter a energia lá em cima durante as 12 horas. E claro, beber água é vital para se manter bem.
Com um horário de trabalho diferenciado, você pode precisar ajustar a sua vida social. Que tal aproveitar o tempo livre das 36 horas para se organizar melhor? Planeje suas atividades de maneira que sua agenda social encaixe bem nesse novo ritmo.
Se você sente que a carga está pesada, converse com sua equipe e com o RH. Uma boa comunicação sobre como você está lidando com o turno ajuda na adaptação, e muitas vezes ajustes simples fazem a diferença.
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A jornada de trabalho 12×36 gera uma série de questionamentos, principalmente entre quem ainda está se adaptando a ela ou considerando sua implementação. Como a escala 12×36 envolve um ritmo mais intenso de trabalho, é natural que surjam dúvidas sobre como ela funciona na prática, seus limites legais e impactos na saúde e produtividade.
Sim, mas com condições! A jornada 12×36 é permitida pela CLT, desde que haja acordo individual ou coletivo entre a empresa e o trabalhador. Em alguns casos, é necessário acordo sindical para garantir que os direitos dos empregados sejam respeitados, como o descanso adequado entre os turnos e a não ocorrência de abusos.
A folga é de 36 horas após o cumprimento das 12 horas de trabalho. Ou seja, um profissional trabalha 12 horas seguidas, e, depois, fica 36 horas descansando antes de retornar ao trabalho. A pergunta mais comum aqui é: e se cair no fim de semana ou em feriados? Nesse caso, o trabalhador deve cumprir a jornada normalmente, com o devido pagamento de horas extras ou compensações quando for o caso.
Sim, mas a hora extra deve ser paga com o adicional de 50% (ou conforme a convenção da empresa). No entanto, o empregador deve tomar cuidado para não fazer o trabalhador exceder as limitações da jornada e respeitar os intervalos necessários. O trabalhador não pode, por exemplo, ser forçado a cumprir 12 horas de trabalho seguidas com a intenção de compensar horas extras sem a devida compensação financeira.
Quando um feriado cai no período de trabalho, o empregado deve ser remunerado com adicional de 100% sobre o valor da jornada. Além disso, dependendo do acordo, o trabalhador pode ter direito a um descanso adicional ou à compensação de outro dia, algo que deve ser previamente acordado com a empresa.
Não. Empresas que não necessitam de trabalho contínuo (como no comércio ou escritórios) geralmente adotam outras jornadas de trabalho, como a escala 5×2 ou 6×1.
Embora o trabalho 12×36 possa parecer exaustivo à primeira vista, muitas empresas que adotam esse modelo percebem um aumento na produtividade e eficiência, já que as jornadas são bem definidas e os colaboradores têm períodos maiores de descanso. Porém, isso só é válido se a empresa garantir que a escala 12×36 seja aplicada de maneira justa e equilibrada, sem sobrecarregar o trabalhador.
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A verdade é que o modo como trabalhamos está em constante transformação, e modelos como o 12×36 mostram que é possível trabalhar de maneira eficiente e, ao mesmo tempo, garantir o descanso necessário para manter a saúde e a produtividade. Para as empresas, cabe avaliar se essa escala realmente atende às necessidades operacionais, sem comprometer a qualidade de vida dos colaboradores.
O futuro do trabalho está em se adaptar às novas demandas e encontrar formas mais equilibradas de organizar o tempo. Se bem ajustada, a escala 12×36 pode ser uma aliada importante nesse processo, oferecendo tanto uma melhor gestão de recursos quanto mais tempo livre para quem está no campo de batalha.
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*Martha Marques é jornalista e criadora de conteúdo há 20 anos. Para a Ticket, escreve sobre benefícios corporativos e o complexo e apaixonante mundo das relações de trabalho.
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