* Por Martha Marques
Bullying no trabalho é um problema que vai além de meros desentendimentos ou brincadeiras inofensivas. Ele pode causar danos profundos à saúde mental dos colaboradores, minar a produtividade das equipes e comprometer seriamente a reputação de uma empresa. Seja na forma de comentários agressivos, exclusões intencionais ou até ataques no ambiente digital, o bullying no trabalho afeta quem o sofre, mas também todo o ecossistema profissional.
Neste artigo, vamos falar sobre o que caracteriza o bullying no trabalho, os impactos que ele provoca e as melhores estratégias para preveni-lo. Além disso, vamos discutir o papel essencial do RH e dos líderes na construção de um ambiente respeitoso e livre de assédio, mostrando que, mais do que uma questão ética, combater o bullying é uma necessidade urgente para qualquer organização.
Bullying no trabalho refere-se a comportamentos repetitivos e intencionais que visam intimidar, humilhar ou prejudicar outro colaborador no ambiente profissional. Essas ações podem ser verbais, físicas ou digitais e criam um clima tóxico que afeta o bem-estar do indivíduo e a harmonia da equipe.
Diferente de conflitos pontuais, o bullying caracteriza-se pela frequência e pela intenção de causar desconforto ou dano.
O termo “bullying” tem origem na palavra inglesa “bully”, que significa “valentão”. Ele começou a ser amplamente utilizado na década de 1970, inicialmente para descrever agressões em ambientes escolares. Foi apenas anos depois que se percebeu que esses comportamentos também ocorriam em locais de trabalho, recebendo atenção especial na psicologia organizacional e no direito trabalhista.
No contexto profissional, o bullying no trabalho ganhou destaque à medida que empresas e especialistas passaram a reconhecer os impactos negativos desse problema. Ele não é apenas um comportamento antiético, mas também uma ameaça à produtividade e ao sucesso organizacional. Por isso, compreender suas características e raízes é o primeiro passo para combatê-lo e criar ambientes mais saudáveis.
Bullying no trabalho e assédio moral têm diferenças importantes que precisam ser compreendidas. Ambos envolvem comportamentos inadequados e prejudiciais, mas suas características específicas e o contexto em que ocorrem os distinguem.
Como vimos, o bullying no trabalho está mais associado a ações repetitivas e intencionais que podem vir de qualquer pessoa no ambiente corporativo: colegas, subordinados ou superiores. Ele é caracterizado por atitudes que humilham, intimidam ou prejudicam emocionalmente a vítima, como piadas constantes, exclusão de atividades ou ataques pessoais.
O foco do bullying geralmente está na relação interpessoal e em um comportamento hostil, sem necessariamente haver uma hierarquia envolvida.
Já o assédio moral, embora também envolva ações repetitivas e nocivas, tem um viés mais relacionado ao abuso de poder ou posição. É mais comum que ocorra em relações hierárquicas, como entre chefe e subordinado, e está frequentemente atrelado a práticas de humilhação ou constrangimento no desempenho das funções profissionais. O objetivo, muitas vezes, é desestabilizar ou desqualificar o colaborador, impactando diretamente sua performance no trabalho.
Em resumo,
enquanto o bullying no trabalho pode ocorrer entre colegas ou grupos, o assédio moral tende a ter uma dimensão de abuso de poder, embora ambos sejam igualmente prejudiciais.
Reconhecer essas diferenças é essencial para que empresas adotem medidas específicas de prevenção e intervenção, promovendo um ambiente de respeito e equidade.
No Brasil, embora não exista uma legislação específica que use o termo “bullying no trabalho”, práticas associadas a esse comportamento estão contempladas em diferentes dispositivos legais. A legislação busca garantir um ambiente de trabalho saudável e proteger os trabalhadores de abusos e comportamentos que comprometam sua dignidade ou bem-estar. Veja o que diz a constituição e outras leis a respeito do tema.
O Código Penal prevê punições para práticas relacionadas ao bullying, como:
Protege contra o uso inadequado de dados pessoais que podem ser utilizados para práticas de bullying, especialmente no ambiente digital.
O bullying no trabalho pode se manifestar de diferentes formas, variando na maneira como as ações são conduzidas e no impacto que geram. Compreender os tipos mais comuns — verbal, físico e ciberbullying — ajuda a identificar comportamentos inadequados e a agir rapidamente para preveni-los ou interrompê-los.
Esse é o tipo mais frequente e, muitas vezes, o mais difícil de identificar. Ele inclui insultos, gritos, críticas constantes e comentários sarcásticos ou depreciativos.
Frases como “Você nunca faz nada certo” ou “Essa ideia é ridícula” podem parecer inofensivas em um primeiro momento, mas, quando repetidas, criam um ambiente de humilhação e desmotivação.
Além disso, o bullying verbal pode se dar por meio de fofocas ou boatos que prejudicam a reputação da vítima.
Embora menos comum no ambiente de trabalho, o bullying físico também acontece, especialmente em espaços onde há interações presenciais frequentes. Ele envolve atos como empurrões, destruição de pertences pessoais ou até gestos intimidadores, como bater em móveis ou invadir o espaço pessoal da vítima de forma agressiva. Esse tipo de bullying costuma ser mais evidente e geralmente requer ações imediatas da liderança ou do RH.
Com o aumento das comunicações digitais no trabalho, o ciberbullying se tornou uma preocupação crescente. Ele ocorre quando mensagens, e-mails ou postagens em redes internas ou sociais são usadas para intimidar, ofender ou expor alguém. Exemplos incluem mensagens agressivas enviadas em grupos corporativos, e-mails com tom ameaçador ou o uso inadequado de informações pessoais da vítima. O ciberbullying pode ser especialmente danoso porque ultrapassa os limites físicos do ambiente de trabalho, alcançando a vítima a qualquer momento.
Os números relacionados ao bullying no trabalho revelam a gravidade desse problema e sua presença em diferentes setores e empresas de todos os portes. Segundo um estudo da Workplace Bullying Institute, cerca de 30% dos trabalhadores nos EUA afirmam já ter sofrido bullying em algum momento de suas carreiras. Já um estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) conclui que a violência e o assédio no trabalho afetaram mais de uma em cada cinco pessoas nos últimos anos.
Ainda de acordo com dados globais, 75% dos trabalhadores que vivenciaram bullying no trabalho relatam impacto significativo em sua saúde mental, incluindo quadros de ansiedade, estresse e depressão. Esse problema também afeta diretamente a produtividade, com 40% dos funcionários expostos a esse tipo de comportamento relatando queda em seu desempenho diário.
De acordo com reportagem do G1, uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC), 41% dos profissionais brasileiros relataram que se omitiriam ao presenciar assédio moral contra colegas, enquanto 18% consideram essa prática normal e aceitável.
Ainda de acordo com a matéria, um estudo da Deloitte, que entrevistou 500 mulheres no Brasil entre outubro de 2023 e janeiro de 2024, revelou que 40% das participantes relataram ter sofrido assédio sexual no ambiente de trabalho. Dessas, 60% não reportaram o ocorrido, destacando a subnotificação desses casos.
O bullying no trabalho provoca um efeito cascata que afeta toda a organização. Ele cria um ambiente tóxico, enfraquece a colaboração entre equipes e gera prejuízos mensuráveis para a produtividade e os resultados da empresa.
Quando o bullying é ignorado, ele se espalha e afeta toda a dinâmica de trabalho. A confiança entre os colaboradores diminui, criando um clima de insegurança e isolamento. Equipes que deveriam atuar de forma integrada acabam se fragmentando, e o espírito de colaboração é substituído pelo medo e pela competitividade destrutiva. Além disso, empresas que não tomam medidas contra o bullying correm o risco de comprometer sua reputação, tanto interna quanto externamente, dificultando a atração e retenção de talentos.
Funcionários expostos ao bullying frequentemente enfrentam dificuldades de concentração, aumento do estresse e queda no desempenho. O ambiente hostil interfere diretamente na capacidade de realizar tarefas, levando a prazos perdidos e entregas de qualidade inferior. O absenteísmo também se torna um problema recorrente, já que as vítimas podem preferir se afastar do trabalho para evitar novas situações de constrangimento ou intimidação. Isso impacta a eficiência da equipe como um todo, gerando sobrecarga nos demais colaboradores e perdas financeiras para a empresa.
De maneira geral, o bullying no trabalho cria um ciclo vicioso: à medida que o ambiente se torna mais nocivo, o engajamento e a motivação caem, o que leva a resultados cada vez mais insatisfatórios.
Canais de denúncia são ferramentas indispensáveis para que colaboradores possam relatar episódios de bullying no trabalho de forma segura e confidencial. Eles servem como um ponto de apoio para as vítimas e como uma base para que as empresas possam agir de forma rápida e eficaz. Abaixo, exploramos os principais canais que podem ser utilizados e como eles devem ser estruturados.
A ouvidoria é um dos canais mais tradicionais e eficazes. Esse espaço deve ser gerido por profissionais imparciais, preparados para acolher denúncias e conduzi-las com ética e sigilo. É importante que a ouvidoria seja acessível a todos os colaboradores e que os denunciantes tenham a garantia de anonimato, caso desejem.
Soluções tecnológicas têm ganhado espaço como ferramentas práticas e seguras para relatar casos de bullying. Plataformas digitais permitem que denúncias sejam feitas online, a qualquer momento, e de maneira confidencial. Essas ferramentas podem ser desenvolvidas internamente ou contratadas de fornecedores especializados, com recursos como rastreamento de processos e relatórios automáticos.
Uma linha telefônica exclusiva para denúncias é uma alternativa acessível, especialmente para empresas com colaboradores que não têm acesso constante à internet. Esse canal deve operar em horários amplos e ser gerenciado por pessoas capacitadas a lidar com situações sensíveis.
O departamento de RH é, muitas vezes, o primeiro ponto de contato para denúncias. No entanto, é essencial que os profissionais de RH estejam treinados para receber relatos de bullying de forma acolhedora, mantendo o sigilo e encaminhando os casos para as instâncias apropriadas.
Em algumas situações, colaboradores podem preferir relatar casos diretamente aos seus líderes imediatos. Nesse caso, os supervisores precisam estar preparados para ouvir as denúncias de forma empática e sem julgamentos, além de saber como direcionar o caso para os canais formais da empresa.
Para garantir total imparcialidade, algumas empresas optam por contratar serviços de canais externos especializados na gestão de denúncias. Esses serviços oferecem uma camada adicional de segurança e credibilidade, especialmente em organizações onde o bullying envolve altos níveis hierárquicos.
Canais de denúncia bem estruturados não apenas incentivam as vítimas de bullying a se manifestarem, mas também demonstram o compromisso da empresa com um ambiente de trabalho seguro e respeitoso. Quando utilizados de maneira eficaz, esses canais ajudam a construir uma cultura organizacional baseada na confiança e na empatia.
Lidar com casos de bullying no trabalho pode ser um desafio para os profissionais de Recursos Humanos, mas é também uma oportunidade para reforçar o compromisso da empresa com um ambiente respeitoso. O papel do RH é mais do que investigar e resolver a situação; ele é o ponto de apoio para as vítimas e o agente de transformação no clima organizacional. Aqui estão as etapas práticas para lidar com esse tipo de situação.
O primeiro contato é determinante. Ao receber a denúncia, o RH deve ouvir o colaborador com atenção e empatia, sem interrupções ou julgamentos. É essencial validar os sentimentos da vítima, garantindo que sua denúncia será tratada com seriedade e discrição. Uma frase simples como “Estamos aqui para ajudar e você não está sozinho” pode fazer toda a diferença.
O colaborador precisa confiar que sua denúncia será tratada de forma confidencial. O RH deve reforçar que todas as informações permanecerão restritas às pessoas diretamente envolvidas no processo e que qualquer vazamento será tratado com a devida gravidade.
A investigação é a etapa mais delicada. Para evitar qualquer viés, o RH deve:
Com base na investigação, o RH deve agir com firmeza. As medidas variam de acordo com a gravidade do caso, mas podem incluir:
Resolver o caso não significa encerrar o suporte. O RH deve acompanhar a vítima para garantir que ela se sinta segura no ambiente de trabalho. Isso pode incluir encaminhamentos para apoio psicológico, check-ins regulares ou ajustes no local de trabalho, se necessário.
Cada caso é uma oportunidade de crescimento para a empresa. Após o encerramento, o RH deve avaliar se há lacunas na política anti-bullying ou nos treinamentos e implementar melhorias. A ideia é transformar a experiência em uma ferramenta de prevenção.
Mesmo em situações difíceis, o RH tem a chance de promover uma mensagem positiva: a empresa valoriza um ambiente onde todos são tratados com dignidade. Use canais internos para reforçar as políticas de respeito e lembrar que o bullying não será tolerado.
O profissional de RH é o mediador que transforma uma crise em aprendizado. Ao lidar com casos de bullying com cuidado, transparência e ação, o RH não apenas protege os colaboradores, mas fortalece a confiança e a cultura organizacional. Afinal, um ambiente respeitoso é a base para que todos possam alcançar seu potencial.
Ser alvo de bullying no trabalho pode ser uma experiência difícil e solitária, mas é importante lembrar que você não está sozinho e que existem passos concretos para lidar com essa situação. Saber como agir e buscar ajuda pode fazer toda a diferença para proteger sua saúde mental e seu bem-estar no ambiente profissional.
O primeiro passo é identificar se o que você está enfrentando realmente configura bullying. Atitudes como humilhações repetidas, isolamento proposital, críticas constantes ou piadas ofensivas que afetam sua dignidade e desempenho são sinais claros de bullying no trabalho. Reconhecer essas ações como inaceitáveis é essencial para tomar as próximas medidas.
Registre detalhadamente as situações de bullying, incluindo datas, horários, pessoas envolvidas e o que foi dito ou feito. Se possível, guarde e-mails, mensagens ou qualquer outro tipo de evidência. Esses registros são fundamentais para fundamentar uma denúncia e proteger seus direitos.
Fale com colegas de confiança sobre o que está acontecendo. Compartilhar sua experiência pode ajudar a validar seus sentimentos e, em alguns casos, identificar testemunhas que podem confirmar o comportamento inadequado. Lembre-se: o isolamento é uma das metas do bullying, então cercar-se de apoio é uma forma de resistência.
Utilize os canais de denúncia disponíveis, como a ouvidoria, o RH ou um líder de confiança. Relate o que está acontecendo com clareza, apresentando os registros que você reuniu. Muitas empresas têm políticas e processos específicos para lidar com bullying no trabalho, e é importante acionar esses recursos.
O bullying pode causar um impacto profundo na sua autoestima e bem-estar. Busque apoio psicológico para lidar com o estresse, a ansiedade ou outros sentimentos que possam surgir. Conversar com um profissional pode ajudá-lo a recuperar a força necessária para enfrentar a situação.
Entenda as políticas internas da empresa e os dispositivos legais que protegem você. No Brasil, práticas de bullying podem ser enquadradas como assédio moral, garantindo que o agressor seja responsabilizado. Se a empresa não tomar medidas adequadas, você pode buscar apoio jurídico para explorar outras opções.
Se o bullying persistir e nenhuma medida eficaz for tomada, talvez seja hora de avaliar seu futuro na empresa. Sua saúde mental e profissional devem ser prioridade, e, em alguns casos, buscar um novo ambiente de trabalho pode ser a melhor decisão para preservar sua qualidade de vida.
O bullying no trabalho é um problema que afeta pessoas, equipes e organizações de maneira ampla e significativa. Ele compromete o bem-estar dos colaboradores, enfraquece o clima organizacional e impacta a produtividade e os resultados de uma empresa. Por isso, combater o bullying é uma necessidade estratégica para construir ambientes de trabalho saudáveis e engajados.
Como vimos ao longo deste artigo, reconhecer as manifestações do bullying, entender suas consequências e implementar ações efetivas são passos fundamentais para prevenir e lidar com essa prática. Desde a criação de políticas claras até a valorização de uma cultura de respeito e empatia, as empresas e seus líderes têm o poder de transformar o ambiente corporativo em um espaço seguro e inclusivo para todos.
Para os profissionais que enfrentam o bullying, saber que existem recursos, canais de denúncia e apoio interno é um alívio. Buscar ajuda, documentar os acontecimentos e priorizar sua saúde mental são atitudes que fazem toda a diferença.
No final, combater o bullying no trabalho é uma responsabilidade coletiva. Quando empresas, líderes, profissionais de RH e colaboradores trabalham juntos, é possível criar um ambiente onde o respeito seja a regra, e o talento e o bem-estar possam prosperar. Esse é o caminho para um futuro mais ético, produtivo e humano no mundo corporativo.
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*Martha Marques é jornalista e criadora de conteúdo há 20 anos. Para a Ticket, escreve sobre benefícios corporativos e o complexo e apaixonante mundo das relações de trabalho.
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