Até mesmo as profissões que demandam conhecimento altamente técnico exigem dos profissionais a capacidade de estabelecer um bom relacionamento interpessoal no trabalho.
Aqueles que chegam a cargos executivos, de gestão e liderança, não necessariamente são os que sabem executar melhor a atividade, mas são pessoas com ótima capacidade de se relacionar.
Assim, criam-se conexões com os pares e com os demais colaboradores. E isso gera uma rede de relacionamentos relevante, além de criar relações de confiança dentro da organização.
O relacionamento interpessoal no trabalho consiste em saber expor as próprias ideias e ouvir as dos outros, ter conversas honestas e transparentes, criando, assim, relações de confiança.
O ambiente de trabalho tem evoluído, e a dinâmica das relações interpessoais não pode ser ignorada. Hoje, é muito comum encontrarmos pessoas desabafando nas redes sociais ao descrever ambientes de trabalho que definem como “tóxicos”.
Na maioria das vezes, o que define a “toxicidade” desses ambientes é a ocorrência de relações deturpadas. Encarar os conflitos a fim de solucioná-los é um dos fatores-chave para construir e manter relações.
Alguns exemplos de situações nocivas e extremamente contraproducentes que resultam da carência de uma boa relação interpessoal no trabalho são:
Em cenários como esses, as pessoas deixam de se engajar e, portanto, participam e se dedicam menos aos seus projetos.
Os relacionamentos interpessoais permeiam todas as áreas da nossa vida. Ter referências de relações saudáveis e estáveis em diferentes âmbitos é importante para servir como espelho para as relações que criamos no trabalho.
Tais relações podem ser baseadas em afinidade, confiança, respeito e admiração mútuos, assim como em uma ligação afetiva; é o caso das amizades, por exemplo. Este tipo de relacionamento interpessoal no trabalho, quando surge, também pode incluir compartilhamento de interesses e valores.
Já as relações familiares envolvem laços de parentesco, além das conexões e, geralmente, suporte emocionais. O mesmo vale para os relacionamentos afetivos e amorosos.
Os níveis de formalidade nas interações entre os pares, líderes e subordinados, clientes, fornecedores e demais stakeholders podem variar, a depender do contexto e da cultura da empresa.
Uma matéria publicada na revista “HSM Management” explica, inclusive, a relação direta entre a saúde mental dos colaboradores e o bom relacionamento interpessoal no trabalho.
As vantagens, nesse caso, se traduzem em aumento nos níveis de felicidade; diminuição dos transtornos psicológicos entre colaboradores e consequente melhora da saúde integral; times mais produtivos e engajados; e retenção de talentos.
Saiba mais: Retenção de talentos: o que é, como fazer – Guia 2023
O relacionamento interpessoal no trabalho está diretamente ligado à qualidade das entregas e ao resultado gerado. Ou seja, é importante porque serve como força motriz para “girar os ponteiros” da organização, traduzindo-se em receita.
Ao desenvolver a teoria do planejamento dos postos de trabalho, também conhecida como job design, o matemático e especialista em psicologia social Richard Hackman buscava propor a melhor forma de sistematizar as relações interpessoais no trabalho.
Segundo o modelo desenvolvido por Hackman para avaliar a efetividade de um grupo, estabelecer relações interpessoais de modo que as interações sejam efetivas e funcionais é fundamental para gerar valor nas organizações.
Apesar de extremamente relevante, o relacionamento interpessoal no trabalho costuma ser subvalorizado pelas empresas. De duas, uma: ou as empresas oferecem treinamentos genéricos, que na prática não serão úteis para ninguém; ou oferecem treinamentos bastante técnicos, voltados a habilidades mais operacionais e específicas.
O mercado oferece um vasto leque de opções de formação, treinamento e desenvolvimento para habilidades técnicas; isso induz a acreditar que tais habilidades serão o fator-chave de diferenciação.
No entanto, só ofertar treinamentos não resolve muita coisa se o relacionamento interpessoal no trabalho seguir sendo disfuncional. É o equivalente a comprar um belo tapete persa para tentar esconder a sujeira do chão de casa.
As empresas precisam reconhecer a importância do relacionamento interpessoal no trabalho, tanto para o desenvolvimento dos profissionais quanto para o resultado. O intuito não deve ser maquiar relações deturpadas, e sim mitigar a toxicidade organizacional.
Saiba mais: Construindo relacionamentos: como utilizar o rapport nas vendas e no relacionamento interno
Na era da inteligência — artificial, mas também emocional —, ter um bom relacionamento interpessoal é o que nos diferencia dos robôs. Esta é a importância das boas relações no trabalho, que manterá os funcionários perenes daqui em diante.
Estudos na área de tecnologia e sociedade têm mostrado que aquilo que é considerado difícil pelas pessoas (cálculos complexos, por exemplo) é fácil para as máquinas. Porém tal habilidade está longe de ser a mais importante no mercado atual.
As habilidades intrinsecamente humanas, como interpretar emoções, resolver conflitos e desenvolver relações profundas, são quase inatingíveis para a IA. Mesmo algoritmos avançados são incapazes de lidar com o imensurável, como faz o Homo sapiens.
Ainda, as pessoas avaliam as outras pelos comportamentos, antes da competência. A incapacidade de manter o bom relacionamento interpessoal no trabalho costuma ser considerada antes mesmo da habilidade do funcionário para desempenhar o projeto.
Por essas razões, ser capaz de manter bons relacionamentos é fator-chave para se manter relevante em uma era tão colaborativa e em um mundo no qual a humanização é cada vez mais importante. Uma alternativa para garantir um bom relacionamento entre empresa e colaborador com recursos que favorecem ao esclarecimento detalhado de horas extras e banco de horas é o ponto eletrônico.
Mark Knapp e Anita Vangelisti (especialistas em comunicação e relações sociais e professores da Universidade do Texas em Austin) identificam cinco fases dos relacionamentos interpessoais:
Vale mencionar que outros pesquisadores usaram teorias diversas para identificar as fases do relacionamento interpessoal, de acordo com as peculiaridades de suas áreas.
Um exemplo interessante é o da pesquisadora Hildegard Peplau, que formulou o próprio modelo de quatro fases para caracterizar os relacionamentos na área da saúde. São elas:
Para a área da saúde, o objetivo desse modelo de relacionamento interpessoal no trabalho é que a equipe atue de maneira integrada e harmônica, para atender às necessidades do paciente.
Em suma seja no ambiente corporativo, hospitalar, em família, entre amigos, não importa onde esteja, a sinergia entre as pessoas é fundamental para atingir resultados — independentemente de quais sejam eles.
Segundo Aristóteles, somos animais sociais. A competência social se refere ao relacionamento com as pessoas e engloba senso de humor, empatia, respeito pelos demais.
Como você se comporta quando sai para almoçar com seus colegas? E numa festa da empresa? Ou você não faz nenhuma dessas coisas?
É necessário dar atenção a isso, a fim de gerar um ambiente leve, harmônico, no qual as pessoas realmente querem estar juntas.
A verdade é que ninguém gosta de trabalhar com aquele cara estressado, que parece que vai estourar a qualquer momento. Ou que rouba a ideia dos outros. Ou o que sempre vai criticar a tudo e a todos. Ou aquele que…
(Tenho certeza de que você pensou em alguém com comportamento negativo que você quer manter longe!).
Além disso, um bom relacionamento social transmite confiabilidade. Ao assegurar confiança, o líder extrai eficiência nas relações, o que leva aos melhores resultados.
Uma vez que relações de confiança facilitam o fluxo nas organizações — afinal, ninguém quer comprar um carro usado de um desconhecido, e sim fazer negócios com alguém em quem confie —, todos os processos acabam sendo otimizados.
A liderança está diretamente atrelada ao desenvolvimento de relações interpessoais no trabalho, e algumas práticas devem ser regra dentro das organizações. A primeira delas, mais sólida, é criar uma cultura de comunicação aberta e transparente.
Cabe aos líderes ficar de olho caso um colaborador esteja evitando interagir com os demais ou com alguém específico. Pode ser o caso de haver desafetos alimentados entre o time, e é necessário intervir com uma conversa franca.
Para que os colaboradores desenvolvam um bom relacionamento interpessoal no trabalho, criar espaços de confiança, com base em empatia, é fundamental.
Um caminho simples é promover ações capazes de gerar relações de confiança entre colaboradores, como integrações, convenções, happy hours e diversas interações extra expediente.
Em um mundo cada vez mais colaborativo, o bom relacionamento interpessoal no trabalho é fundamental para o sucesso de qualquer organização.
Seja entre colegas, líderes, clientes ou fornecedores, tais relações estabelecem a base para uma cultura organizacional saudável e produtiva.
Quando os membros da equipe têm relações saudáveis, eles se sentem mais confortáveis em compartilhar ideias, resolver problemas e buscar objetivos comuns. A colaboração e a sinergia resultantes levam a um desempenho mais eficiente e a melhores resultados.
Além disso, o relacionamento interpessoal no trabalho contribui para o bem-estar dos funcionários. Ter relacionamentos significativos e sentir-se valorizado e respeitado pelos colegas podem reduzir o estresse, aumentar a satisfação e melhorar a qualidade de vida.
Isso pode ser alcançado por meio de práticas de comunicação eficazes, criação de espaços e oportunidades para interações, incentivo à colaboração, além de programas de mentoria.
Por meio da valorização do relacionamento interpessoal no trabalho, as organizações podem criar um ambiente saudável e eficiente, construindo relações de confiança mútua e bem-sucedidas.
Ricardo Basaglia é CEO da Michael Page no Brasil e é autor do best-seller Lugar de Potência. Hoje é o headhunter mais acompanhando do Brasil, produzindo conteúdo sobre Carreira & Liderança nas redes sociais e podcast. https://www.instagram.com/ricbasaglia/
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