Com certeza você já ouviu falar nas vagas afirmativas, direcionadas para um público específico, como mulheres, pessoas com deficiências, pessoas negras, pessoas do público LGBTQIAP+ e outros.
Elas têm se popularizado no mercado e a tendência é que a oferta aumente. Mesmo com as opiniões divididas, as empresas que incorporam essas vagas no seu processo, experimentam os frutos positivos da diversidade.
Mas qual a importância dessas vagas para os diferentes grupos, como elas causam mudanças no ambiente de trabalho e como a empresa pode construir esse tipo de vaga? Neste artigo, vamos te ajudar a entender.
Boa leitura!
As vagas afirmativas fazem parte do conjunto de ações afirmativas que são medidas públicas e privadas, coercitivas ou não, para a integração de todas as pessoas, independentemente de raça, sexo, religião, deficiências físicas ou mentais.
O Brasil internalizou em sua Constituição Federal de 1988, a proteção do direito à diferença, pautado no princípio da igualdade, em seu artigo 5º, caput.
As ações afirmativas são um exemplo das medidas usadas para garantir a aplicação do princípio da igualdade no nosso país, assegurando que as minorias tenham seus direitos resguardados.
Desse modo, as vagas afirmativas são aquelas que ajudam a diminuir a desigualdade econômica e social que existe entre grupos minoritários e privados de acesso a oportunidades por questões sociais.
As empresas, dessa forma, vão garantir a equidade no local de trabalho, com oportunidades direcionadas para grupos exclusivos, que tendem a sofrer com a discriminação e segregação no mercado, como:
No contexto atual também é importante nos lembrarmos da importância da restituição da igualdade a esses grupos, que pode ter sido rompida ou nunca existiu.
Atualmente, principalmente com as implementações das políticas de ESG nas empresas, as ações que visam alcançar metas de diversidade, dentro do parâmetro social, incluem a criação de vagas para grupos específicos.
Quando uma empresa inclui em suas diretrizes políticas de cunho afirmativo, e é formada predominantemente por homens, uma das ações será aumentar a força de trabalho formada por mulheres em um determinado período de tempo.
Sendo assim, elas vão abrir as vagas para recrutar pessoas com esse perfil, ou seja, vagas afirmativas para mulheres.
Quando as organizações fazem isso, elas não estão agindo de forma arbitrária, mas estão amparadas pela lei, para que sejam resguardadas ao realizarem seus processos seletivos para grupos minoritários. Entre as principais, podemos citar:
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No Brasil, ainda temos poucas vagas afirmativas e essa proposta ainda é recente. Por isso, é preciso investir na abertura de vagas direcionadas, pois alguns dados recentes mostram nossa realidade:
Um relatório elaborado pela McKinsey & Company, mostrou que existe uma correlação positiva entre a lucratividade e diversidade de gênero e étnica.
Além disso, a hipótese de que ter maior número de mulheres em cargos de liderança ajuda a empresa a ter maior performance também foi testada e se mostrou verdadeira.
Dessa forma, podemos perceber que existe um aumento da lucratividade em empresas que se abrem às diversidades culturais, étnicas e de gênero.
Pois elas acabam atraindo melhores talentos, aumentam a felicidade do cliente e dos funcionários e tomam melhores decisões.
Dessa forma, vemos que diversas empresas têm firmado seu compromisso com a diversidade e a inclusão (D&I), apresentando suas agendas e estimulando outros dentro da empresa a fazer o mesmo.
Grandes corporações tem estendido suas ações de D&I a cadeia de fornecedores, a sua cadeia de produção, apoio a organizações, projetos e inclusão da diversidade em todas as suas iniciativas e tratos com os colaboradores.
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De acordo com uma pesquisa feita pela Gupy, de todas as oportunidades publicadas na plataforma, aproximadamente 600 mil, apenas 1% se destinam a vagas afirmativas. Desse total, o direcionado a pessoas negras é de apenas 5%.
Essas vagas destinadas exclusivamente a pessoas negras visam diminuir a diferença entre a quantidade de pessoas pretas e pardas, que representa 56% da população, segundo o IBGE e os cargos de poder.
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Hoje, essa relação é de apenas 30%, segundo o IBGE. Dessa forma, o recrutamento e inclusão de pessoas negras visa diminuir o abismo social causado por séculos de escravidão e discriminação no Brasil e igualar as oportunidades.
A importância dessas vagas se revelam no fato de que no Brasil, não temos nem metade das empresas com times compostos por 50% de pessoas negras.
Por isso, a fim de equalizar as discrepâncias sociais neste grupo, e evitar os problemas causados pelo racismo institucional, é preciso investir na abertura de vagas para pessoas negras.
De acordo com o último censo demográfico realizado pelo IBGE, em 2010, a população dos povos originários contava com 896.917 pessoas. Entre estas, mais de 324 mil habitavam a zona urbana.
Atualmente, em todo o país, os indígenas representam 305 etnias diferentes, sendo as principais: Guarani, Ticuna, Kaingang, Macuxi, Guajajara e Yanomami. Pelo último censo, foram registradas 274 línguas, sendo que 17,5% não falavam o português e 32,3% ainda eram analfabetos.
De acordo com uma pesquisa da FGV Social, 28,6% dos indígenas foram afetados pelo desemprego na pandemia. Houve também a diminuição da jornada de trabalho, além do confinamento que atrapalhou a circulação entre aldeias e cidades.
De maneira geral, o que observamos atualmente, é o isolamento dessas 305 etnias, onde a população indígena continua inviabilizada de várias formas no mercado de trabalho, com muito preconceito e imagem negativa.
Entre os vários pontos dessa problemática, temos o desafio do acesso à educação de qualidade para esse grupo. E isso afeta o ingresso e a permanência no mercado de trabalho.
Além disso, esse grupo costuma morar em regiões mais afastadas dos grandes centros e são menos populosas, o que dificulta a busca por emprego. Também não existe uma política de moradia para os indígenas nos centros urbanos.
O preconceito e a discriminação também são percebidos na hora de procurar por vagas de trabalho. Muitas vezes, eles nem chegam a ser chamados para a entrevista durante o processo seletivo.
Por isso, as vagas afirmativas são muito importantes para a recolocação das pessoas indígenas no mercado de trabalho, permitindo que os preconceitos e estereótipos sejam eliminados dos processos de seleção e favorecendo a empregabilidade dessas pessoas em diversos setores.
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Até os anos de 1940, a maior parte das mulheres tinham como principal função cuidar da casa e dos filhos. Na década de 1970, muitas passaram a ocupar cargos variados nas organizações e a fazer parte da força de trabalho.
Devido a aquisição recente de direitos, ainda existe o pensamento de que as mulheres nasceram para servir. Por isso, as vagas específicas para mulheres, ajudam a mudar esse cenário, mostrando que as mulheres em posição de liderança são capazes de mudar a situação das empresas.
As empresas que possuem ações afirmativas e trabalham com uma agenda de D&I, aumentando o número de mulheres, percebem o crescimento na inovação, produtividade, melhora nos processos e retenção de talentos.
Mas, embora exista o reconhecimento da importância da diversidade de gênero e as últimas décadas tenham sido marcadas por melhorias nas condições de trabalho para as mulheres, ainda percebemos alguns desafios, como:
Além destes problemas citados, as mulheres ainda lidam com a desvalorização, o que tem causado decepção e esgotamento. E essa desvalorização tem fundamento. Segundo o Relatório de Tendências do Manpower Group, vemos que:
Por isso, as vagas específicas para mulheres, com metas reais, são importantes para equalizar esse cenário de disparidades. Uma saída que as empresas têm encontrado é criar um comitê de diversidade e inclusão para diversificar os talentos.
O preconceito e a desinformação aumentam ainda mais a barreira para a entrada de pessoas do grupo LGBTQIA + no mercado de trabalho. É preciso além das vagas, criar também um contexto positivo dentro da empresa para receber esse grupo.
Os outros funcionários precisam entender o quadro de vulnerabilidade e ajudar na criação de um ambiente saudável para o trabalho.
Durante uma pesquisa realizada pelo projeto TransVida, do Grupo pela Vida, com apoio do Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, mostrou que apenas 15% dos participantes trabalham de carteira assinada.
Além disso, 15,6% trabalhavam de forma autônoma formal e 27,2% de forma autônoma informal. A atividade de prostituição foi descrita em 14,3% do grupo.
Com o avanço das pautas LGBTQIA+ tivemos um aumento da conscientização das pessoas sobre esse grupo e a criação de leis contra discriminação. Mas mesmo com a abertura de algumas vagas específicas, o grupo ainda enfrenta desafios.
De acordo com o levantamento Demitindo Preconceitos, em 14 estados brasileiros, 38% das empresas entrevistadas mostraram algum tipo de impedimento para seleção e recrutamento de homoafetivos.
Além disso, no Brasil, 61% preferem manter em sigilo sua orientação sexual no trabalho, de acordo com o Center for Talent Innovation. Eles preferem manter o anonimato sobre sua orientação sexual e não falam abertamente sobre o assunto.
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Os profissionais de baixa renda são geralmente excluídos do mercado devido a baixa qualificação, que vem juntamente com o investimento em estudos, o que no caso deste grupo é mais limitado.
Dessa forma, eles enfrentam desafios e dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, pois as vagas têm elevado o nível de exigência em relação às qualificações e o número de candidatos é grande.
Infelizmente, os critérios tradicionais de seleção e recrutamento, que priorizam pessoas com experiência profissional, cursos superiores, habilidades técnicas e outras exigências, acabam favorecendo candidatos que possuem poder aquisitivo maior.
Alguns exemplos de vagas que dificultam a inserção dos candidatos baixa renda no ambiente corporativo são:
Sabemos que no nosso país, alguns acessos, como aprender outro idioma, ainda é difícil para os que possuem poder aquisitivo baixo. Isso acaba excluindo pessoas que têm outras habilidades profissionais bastante desejáveis.
Dessa forma, as empresas podem atuar diminuindo as disparidades ao abrir vagas destinadas a pessoas de baixa renda, sem solicitar tantas qualificações e procurar durante o desenvolvimento do profissional, aplicar treinamentos, para que ele possa evoluir juntamente com a organização.
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De acordo com o Relatório Anual de Informações Sociais, apenas 1,1% das vagas de trabalho formais são ocupadas pelo grupo de pessoas com deficiências. O que reforça a necessidade de vagas destinadas para este grupo.
A criação destas vagas são amparadas pela Lei 8.213/91, que pontua que as empresas que possuem a partir de 100 colaboradores precisam, obrigatoriamente, contratar pessoas com deficiência ou reabilitadas pela previdência social para o quadro de colaboradores.
Entre os benefícios da abertura de vagas para pessoas com deficiência, podemos citar:
Saiba mais em O papel da gestão de pessoas na inclusão de PcDs.
Em um estudo desenvolvido pelo Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra no Brasil, o objetivo das ações afirmativas é definido como:
“…eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento, bem como compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros.”
Dessa forma, podemos entender a importância das vagas afirmativas no contexto das empresas, que visam promover um ambiente mais igualitário para pessoas vítimas de discriminação.
Essas ações permitem que os beneficiados possam, competir efetivamente por posições no mercado de trabalho de forma justa.
Além das políticas de reparação histórica, temos ainda, em outro contexto, explicado por Bergmann (1996), outra dimensão dessas políticas, a diversidade.
Segundo a autora, existiriam três conceitos por trás das ações afirmativas; Os dois primeiros giram em torno do combate sistemático à discriminação em certos espaços da sociedade e da redução da desigualdade que atinge diversos grupos, como as causadas por raça e gênero.
A terceira proposta, por sua vez, procura integrar os diferentes grupos sociais minoritários por meio da valorização da diversidade cultural que formam. Ela visa conferir uma identidade positiva aos inferiorizados.
Além disso, prioriza a ideia de que a convivência mais próxima com pessoas diferente ajudaria a prevenir visões preconceituosas e práticas de discriminação.
Por fim, uma pesquisa da revista Psychology Today mostrou a correlação positiva entre o ambiente inclusivo e a felicidade e o bem-estar. A pesquisa mostrou que quanto mais inclusiva a empresa, maior o bem-estar entre os funcionários.
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Por isso, para construir um ambiente de trabalho satisfatório e sem estereótipos, com oportunidades igualitárias para todos os grupos sociais, é muito importante que as empresas adotem esse tipo de vaga, para que possamos diminuir as disparidades.
A inclusão destes grupos refletem consciência, empatia e alinhamento das empresas com os assuntos mais importantes, incluindo as agendas de diversidade. Além disso, essas políticas ajudam em outros campos, como:
Para abrir um processo de recrutamento e seleção que valoriza a diversidade e inclusão, é importante ter em mente que o que muda é que a vaga será aberta exclusivamente para um grupo de pessoas.
Mas o objetivo continua sendo encontrar uma pessoa com o perfil adequado para ocupar a vaga. Para isso, alguns pontos podem ser contribuir para uma boa seleção, como:
Veja também 3 ações para promover a diversidade no ambiente de trabalho.
A diversidade de pessoas de todos os grupos reunidos em uma empresa ajuda a diminuir os estereótipos, as desigualdades, os preconceitos e a melhorar as tomadas de decisões e resoluções de problemas.
Isso porque o ambiente diversificado vai trazer olhares e vivências diferenciadas sobre diversos temas, possibilitando às empresas a inovarem em seus processos, melhorando sua imagem no mercado e se tornando mais competitivas.
Empresas consideradas bons lugares para trabalhar são aquelas que tem no cerne de suas atividades, a diversidade e o bem-estar em sua cultura organizacional e políticas inclusivas.
Assim, para que o mundo corporativo possa expandir os seus paradigmas, é preciso criar vagas afirmativas para os grupos minoritários. A diminuição da desigualdade está diretamente relacionada a um ambiente mais feliz e com qualidade de vida.
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