O que é intraempreendedorismo e por que é importante para as empresas?

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Na última década, o conceito de empreendedorismo tem estado em voga no âmbito da administração e do mercado. Mas se a proposta de transformar uma boa ideia em negócio é interessante para indivíduos, ela também é bem-vinda para as empresas.

 

Daí surge o intraempreendedorismo, ou seja, o conceito de as empresas se valerem de boas ideias propostas pelos próprios colaboradores e transformá-las em inovação, gerando novas soluções — e possíveis negócios — para as organizações. 

 

Para transformar os talentos dos colaboradores em valor de maneira tão disruptiva a ponto de modificar a organização internamente, seja na gestão, seja no modo de fazer negócios, é interessante que a cultura da empresa esteja aberta à inovação e à criatividade.

 

Intraempreendedorismo: como surgiu e o que é

 

O conceito de intraempreendedorismo surgiu em 1978, quando o empreendedor Gifford Pinchot III e sua esposa, a autora Elizabeth Pinchot, publicaram o artigo “Intra-Corporate Entrepreneurship”(algo como “Empreendedorismo Intracorporativo”, em tradução livre).

 

O artigo, como o próprio nome sugere, abordava a importância do empreendedorismo aplicado dentro das corporações. Posteriormente, a ideia deles seria reforçada pelo livro “Intrapreneuring” (Intraempreendedorismo), que consolidou o termo. 

 

Ou seja, por mais alinhada com a atualidade que seja, a ideia de intraempreendedorismo está longe de ser nova e vem sendo explorada ao longo de mais de quatro décadas.

 

A diferença entre intraempreendedorismo e empreendedorismo

 

Empreendedorismo é o ato de transformar uma ideia, ou uma solução, em um negócio rentável, sustentável e lucrativo. O intraempreendedorismo se aproveita dessa prática, porém dentro das organizações, por meio dos próprios colaboradores. 

 

Os intraempreendedores podem desenvolver novos produtos, serviços, processos ou modelos de negócios, mas fazem isso dentro da estrutura e dos recursos da empresa onde estão empregados.

 

Em vez de iniciar um novo empreendimento próprio, do zero, os intraempreendedores buscam inovar, desenvolver novos produtos, serviços ou processos, identificar oportunidades e assumir riscos dentro de uma empresa já estabelecida na qual atuam.

 

Os empreendedores geralmente assumem riscos financeiros, para iniciar e administrar um novo negócio e enfrentam os desafios inerentes ao lançamento de algo completamente novo.

 

Embora os intraempreendedores também assumam riscos, estes são mais ligados à responsabilização, enquanto os riscos financeiros são mitigados, ou absorvidos, pela estrutura e pelos recursos oferecidos pela organização. 

 

Tipos de intraempreendedorismo

 

Existem dois tipos de intraempreendedorismo que podem ser praticados pelas organizações: o de valor agregado e o de spin-off

 

Enquanto o intraempreendedorismo de valor agregado visa aprimorar a posição competitiva da empresa mãe, o intraempreendedorismo de spin-off permite que ideias promissoras evoluam para iniciativas independentes e autônomas.

 

  • Intraempreendedorismo de valor agregado

 

Refere-se à inovação proposta pelos colaboradores tendo em vista a criação de valor significativo para produtos, serviços ou processos da organização em que estão. 

 

Nesse contexto, os intraempreendedores podem identificar oportunidades para melhorar a eficiência, a qualidade, a experiência do cliente ou qualquer outra dimensão que contribua para a competitividade e o sucesso da organização.

 

O intraempreendedorismo de valor agregado destaca-se pela criação de valor incremental dentro do ambiente organizacional. 

 

Este tipo inclui a introdução de novas funcionalidades em produtos existentes, a otimização de processos internos para reduzir custos, o desenvolvimento de novos canais de distribuição ou o aprimoramento das operações. 

 

 

  • Intraempreendedorismo de spin-off

 

Envolve transformar uma ideia inovadora, surgida dentro da empresa, em um produto ou até mesmo em uma empresa separada e independente.

 

Ou seja, no intraempreendedorismo de spin-off, ocorre a incubação de uma ideia dentro da estrutura organizacional. 

 

Neste caso, os intraempreendedores criam um spin-off, ou uma nova empresa derivada da organização principal, muitas vezes para explorar oportunidades específicas de mercado ou para comercializar uma inovação de maneira mais independente.

 

Quando a ideia atinge um determinado estágio de maturidade, os gestores da organização podem decidir por torná-la uma entidade independente, seja por meio de investimentos externos, parcerias estratégicas ou de outras formas de financiamento.

 

 Benefícios do intraempreendedorismo para a empresa

 

A principal vantagem do intraempreendedorismo é que as organizações podem se beneficiar da criatividade, do pensamento inovador e do espírito empreendedor de seus próprios funcionários. 

 

Por essa razão, incentivar uma cultura intraempreendedora pode levar a melhorias significativas na eficiência, na competitividade e no crescimento da empresa.

 

Benefícios do intraempreendedorismo para o colaborador

 

Intraempreendedores em geral são profissionais criativos e inovadores, talentos cada vez mais importantes para as organizações e valorizados por elas. 

 

De acordo com o relatório Future of Jobs (Futuro dos Empregos), do Fórum Econômico Mundial, publicado em 2023, pensamento analítico e pensamento criativo foram consideradas as habilidades mais relevantes para os profissionais em 2023. 

 

O pensamento analítico é considerado uma habilidade fundamental por mais empresas do que qualquer outra. Tanto que, de acordo com o levantamento feito em organizações ao redor do mundo, em torno de 9% das empresas a citaram como uma habilidade fundamental para os seus negócios. 

 

O pensamento criativo, por sua vez, ocupa a segunda posição, seguido de resiliência, flexibilidade e agilidade, autoconsciência e curiosidade e capacidade de lifelong learning (formação contínua). 

 

O relatório aponta como as empresas reconhecem globalmente o valor e a importância de colaboradores capazes de analisar a organização e o mercado em que atuam, inovar e gerar valor a partir disso. 

 

Em suma, a capacidade de ser intraempreendedor está bastante alinhada com as necessidades organizacionais de um momento tão disruptivo do mundo e dos negócios. 

 

Quais são as características de um intraempreendedor?

 

O intraempreendedor se caracteriza como o profissional que busca encontrar melhorias por onde passa. Isso exige um pouco de inquietude e muita curiosidade e criatividade, características de alguém que não se acostuma com o status quo

 

Basicamente, a prática do profissional intraempreendedor é contraintuitiva. Afinal, nossa tendência evolutiva é buscar o conforto, nos apegar ao que estamos acostumados e nos deixa seguros. 

 

O intraempreendedor, por sua vez, não se fixa a uma rotina estagnada e usa a criatividade para buscar o que, em princípio, está fora de alcance. 

 

Tudo isso exige também autonomia — o intraempreendedor dificilmente ficará buscando validação do gestor ou reclamando quando sente falta de inovação. Este costuma ser um perfil mais “mão na massa”. 

 

Obviamente, não quer dizer que o intraempreendedor faz o que lhe dá vontade e descumpre regras, e sim que ele assume a responsabilidade, vai atrás de benchmarks que atestem a eficácia de suas ideias, fala com pessoas, faz networking e avança. 

 

Como a empresa pode atrair e reter profissionais intraempreendedores?

 

Proporcionar um ambiente que valorize a criatividade e seja aberto à inovação é crucial para atrair e reter profissionais intraempreendedores. No entanto, é preciso ter em mente que toda a cultura da empresa precisa estar alinhada a esses valores.

 

Empresas com culturas mais conservadoras e menos abertas às mudanças dificilmente serão atrativas para profissionais com um perfil cujo foco é justamente orientado a mudanças. 

 

Dinheiro, é claro, também é importante. Por isso, salários e benefícios devem estar alinhados à responsabilidade que o cargo ocupado demanda, mas também às metas alcançadas.

 

Mas é importante destacar que os incentivos direcionados à motivação desempenham um papel vital na atratividade da empresa, normalmente até maior do que o valor do salário em si. 

 

Algumas pessoas optam por deixar empregos altamente remunerados devido à insatisfação com fatores diversos, como valores divergentes.

 

Se a estrutura organizacional promover uma cultura de colaboração e de inovação — algo valorizado pelos intraempreendedores — e proporcionar segurança a esses colaboradores, será mais fácil garantir a atratividade e a retenção deles.

 

Nesse sentido, os líderes podem ajudar a criar esse ambiente de inovação e colaboração, minimizando os obstáculos burocráticos, estando flexíveis a novas ideias e estipulando uma faixa de falhas aceitável.

 

Como estimular o intraempreendedorismo?

 

Uma empresa pode estimular o intraempreendedorismo por meio de uma cultura que acolha o novo e favoreça práticas de trabalho propícias à inovação. Isso requer uma perspectiva holística, que inclui líderes e demais stakeholders

 

Inclui-se aqui estimular a comunicação aberta e o compartilhamento de ideias entre os membros da equipe, a fim de promover um ambiente colaborativo, que valorize a diversidade de pensamento, experiências e perspectivas.

 

Times compostos de pessoas com habilidades diversas tendem a gerar ideias muito mais diversas e inovadoras do que equipes formadas de talentos muito homogêneos.

 

Para estimular o intraempreendedorismo, é importante que a empresa veja com bons olhos os casos em que há ajustes de curso e iterações com base nos resultados e feedback obtidos.

 

Se o objetivo da empresa com o estímulo ao intraempreendedorismo for solucionar um problema específico ou ampliar as operações, os passos a seguir podem ajudar a orientar esse processo: 

 

  • liste as prioridades, ou seja, do que esta operação específica precisa imediatamente para crescer, inovar ou disruptar;
  • dentre elas, delimite o que está sob responsabilidade de cada setor ou estrutura organizacional e quem precisa estar envolvido em cada uma delas, direta ou indiretamente; 
  • a seguir, distinga para cada uma delas: a) quem é o executor — ou seja, quem tem de colocar a mão na massa e executar as tarefas; b) quem é contribuinte — pessoas que não são responsáveis pela tarefa, mas participarão dela de alguma forma; e c) quem é o supervisor — aquele que irá garantir que a execução está sendo adequada. 

 

É interessante ainda que os líderes incentivem, e demonstrem, atitudes inovadoras. Dessa forma, cria-se um ambiente no qual os riscos — e os eventuais erros — não são punidos, mas são vistos como parte do processo de inovação.

 

Obviamente, nada disso significa que a empresa deve estender um tapete vermelho para todas as ideias que surgirem. Cada ideia deve estar acompanhada da capacidade de execução e alinhada ao propósito organizacional. 

 

Para serem validadas, é necessário que o colaborador intraempreendedor estruture suas ideias em um projeto, apresente-a aos patrocinadores, ou seja, aos stakeholders dentro da empresa, engaje pessoas e obtenha o aval para executar a ideia. 

 

A partir disso, ele precisará mostrar resultados com regularidade, de acordo com os benchmarks estipulados previamente. Com isso, o intraempreendedor ganha mais credibilidade e a empresa tem mais segurança para acolher e implementar novas ideias. 

 

Cinco exemplos de intraempreendedorismo

 

  1. Google e a “20% rule

A famosa estratégia 20% rule da Google visava que os colaboradores dedicassem 20% do seu tempo de trabalho a projetos pessoais e ideias inovadoras. 

 

Muitos produtos bem-sucedidos, como o Gmail e o Google Maps, se originaram desse conceito de intraempreendedorismo.

 

  1. 3M e o Post-it

O Post-it, uma das invenções mais conhecidas da 3M e que se tornou essencial nos escritórios, nas casas e para os estudantes, foi desenvolvido por um colaborador chamado Arthur Fry. 

 

Tendo em vista que todos os adesivos da 3M eram altamente aderentes, Fry utilizou a cola desenvolvida por um colega para criar adesivos para anotação e lembrete que pudessem ser colados e removidos com mais facilidade. 

 

  1. Sony PlayStation

O PlayStation, uma das marcas líderes no mercado de consoles para games, surgiu como um projeto de intraempreendedorismo. 

 

Ken Kutaragi, um engenheiro da Sony, desenvolveu o console original como um projeto paralelo seu — que se tornou um produto extremamente bem-sucedido e gerou uma nova ramificação dos negócios da Sony.

 

  1. Apple iPod

O desenvolvimento do iPod, que revolucionou a indústria da música, foi liderado por Tony Fadell e uma equipe múltipla formada por ele na Apple. 

 

A intenção dele estava atrelada aos objetivos de Steve Jobs de transformar meros produtos em objetos de desejo do público consumidor. 

 

Com o conceito bem formatado, Fadell propôs a ideia de um reprodutor de música digital à Apple, que acabou abraçando o projeto e lançando o iPod em 2001. 

 

  1. Adobe Acrobat e o PDF

O Adobe Acrobat, software amplamente utilizado para criar e visualizar documentos PDF, foi desenvolvido pelo cofundador da Adobe, John Warnock. 

 

A empresa, cujo objetivo era criar inovações em computação gráfica, acolheu a ideia de Warnock de criar, mais do que o software, um formato de documento independente da aplicação original. A iniciativa levou à criação do hoje onipresente PDF e ao sucesso global do Adobe Acrobat.

 

A relação entre o intraempreendedorismo e a inovação dentro de uma empresa

 

Intraempreendedorismo, em suma, envolve a busca por inovação dentro de uma empresa. Ele pode resultar em melhorias e incrementos para a organização já existente ou em uma nova organização derivada dela. 

 

A iniciativa de intraempreendedorismo se transforma, de fato, em inovação quando a iniciativa sai do campo exclusivo das ideias e é expandida para a aplicação prática. Existem alguns caminhos estratégicos a serem trilhados para isso. 

 

Até mesmo projetos mais burocráticos podem ser extremamente inovadores com o uso de metodologias voltadas à inovação, como o design thinking, que permitam brainstormings poderosos e sistematização do processo criativo. 

 

A jornada do design thinking prevê a necessidade de: 

 

  • guiar-se pela curiosidade, fazendo perguntas;
  • aceitar a complexidade, explorando sistemas e aceitando inseguranças;
  • visualizar e mostrar, usando histórias e demonstrações;
  • experimentar e iterar, produzindo e testando protótipos;
  • concentrar-se em pessoas, fomentando empatia e suprindo necessidades.

 

A abordagem do design thinking pode ser uma ferramenta valiosa ao estimular o intraempreendedorismo, pois envolve a adoção de várias estratégias e de práticas que promovem a inovação e o pensamento empreendedor entre os colaboradores.

 

Ela coloca o foco na autonomia dos profissionais, na compreensão das necessidades dos usuários ou clientes, na geração de ideias criativas, na prototipagem rápida, na iteração contínua e no feedback constante. 

 

A metodologia pode inspirar líderes, colaboradores e times a abordarem problemas de maneira inovadora, promovendo o pensamento empreendedor dentro da organização.

 

Conclusão

 

O intraempreendedorismo está diretamente ligado à inovação e, consequentemente, à geração de valor e à perenidade das organizações. 

 

Exemplos tangíveis, como os casos de sucesso em Google, 3M e Sony, ilustram como as empresas podem prosperar quando fomentam ambientes propícios ao intraempreendedorismo.

 

A conexão intrínseca entre intraempreendedorismo e inovação ressalta a importância de cultivar uma cultura organizacional que estimule a criatividade, a busca por novas oportunidades e a adaptação a ambientes dinâmicos.

 

Além disso, ao reconhecer que o intraempreendedorismo está intrinsecamente ligado à retenção e à atratividade de talentos, as empresas podem adotar estratégias específicas para nutrir e recompensar os esforços inovadores de seus colaboradores.

 

Assim, ao promover o intraempreendedorismo, as organizações fortalecem sua capacidade de se manterem relevantes em um mundo em constante transformação. Mas não apenas isso. 

 

Elas também criam um ambiente que atrai, retém e estimula talentos, consolidando-se como verdadeiros celeiros de inovação e sucesso sustentável. 

 

Por essas razões, incentivar a cultura intraempreendedora pode levar a melhorias significativas na eficiência, na competitividade e no crescimento da empresa. 

 

Fica evidente que a capacidade de inovar de dentro para fora é crucial. E, para isso, há duas facetas distintas. 

 

O intraempreendedorismo de valor agregado aprimora internamente produtos, serviços e processos, e o intraempreendedorismo de spin-off desencadeia a criação de entidades independentes. 

 

Ou seja, para inovar, não precisa criar do zero; bastam o desejo e a capacidade de aprimorar e de transformar. 

 

A ideia fundamental é que as organizações podem se beneficiar da criatividade, do pensamento inovador e do espírito empreendedor de seus próprios funcionários.

 

Ao longo do tempo, o conceito de intraempreendedorismo evoluiu e foi adotado por diversas organizações como uma estratégia para estimular a inovação interna. 

 

Muitas empresas agora reconhecem a importância de cultivar um ambiente que encoraje os funcionários a assumirem riscos calculados, explorar novas ideias e contribuir para a evolução contínua da organização. 

 

Ricardo Basaglia é CEO da Michael Page no Brasil e é autor do best-seller Lugar de Potência. Hoje é o headhunter mais acompanhando do Brasil, produzindo conteúdo sobre Carreira & Liderança nas redes sociais e podcast. https://www.instagram.com/ricbasaglia/

 

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